Fabula

Levantei-me, tirei a roupa sem tirar os olhos da mulher. Ela ficou parada e observando enquanto me despia. No meu copo pude notar a origem do sangue. Nas costas calos do tamanho de, mais ou menos, um palmo brotaram e estouraram. Ferviam agora como se brasas tocassem minha pele. Ela falou:

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_ Você é belo como um anjo guerreiro.
Ela era mais bela do que anjos...
_ O que faz em meus sonhos, Donzela?
_ Clamo por ti. Nada mais faço. Não percebeste o perigo que venda teus olhos?
_ O que diz com isso?
_ Você caiu neste lugar por acaso. Porque quer continuar aqui, se bem podes voar para longe. Mas não se apresse, tenho as respostas. És um anjo Dédalo. Você caiu neste lugar por mim, juramos amor um pelo outro. Como castigo perdeste a memória, as asas, o amor...
_ Não fala coisa com coisa mulher.
_ Você cada vez mais caminha para a redenção. Suas asas já lhe machucam. Sabes que precisa delas. Pode tornar-se novamente algo puro pelo qual me apaixonei, mas não terá a mim.
Ela insistia com a idéia insana de que era um anjo. Mas sabia bem o que realmente eu era. Sempre senti minhas costas, e de longe já podia sentir o cheiro de medo das pessoas. Bem sei que não me lembro da infância, mas hoje em dia não me faz falta.
Quando senti o cheiro do ar, foi só o orvalho que me chamou a atenção. Não tinha medo, a mulher. Uma nevoa fraca cobria o chão, o sol começara a brotar longe do bosque. No chão apanhei o arco e a aljava. Senti a madeira e o couro frio. Apanhei uma flecha e armei meu arco com ela. Senti o arco retesar. Na mira a moça mais linda que vi. A mulher que infernizou minha mente com lembranças insanas e mortas. Nos olhos dela brotavam lagrimas curtas. E com isso pude atirar. A flecha acertou-lhe o olho, e o levou junto. Já de longe pude ver seus miolos espetados na ponta da flecha que atravessará sua cabeça.
_ Sinto muito mulher...
Limpei-me. Bati as bota e continue minha jornada.

Dédalo de Lianeth