Fabula

Quilômetros distante do bosque, lembrei da mulher novamente. Sabia eu, que ela tinha razão, que era sim um ser diferente. Os meus pés ardiam em calos e minha mente fervilhava de imagens. Senti em minhas veias um calor que só imaginei sentir no inferno, como poderia eu vir do céu?

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A trilha que seguia tinha mudado desde a ultima vez que olhara para os lados. O que antes era vivo, agora parecia ter morrido á distancia já percorrida. Árvores condenadas se mantinham retesadas em meio às flores fétidas e ervas daninhas. O solo cuspia água negra de vertentes surgidas do nada, a terra parecia ser feita de cinzas de uma fogueira recém apagada.
Meus passos eram curtos agora e meu arco já pairava em minha mão. Uma dor terrível subiu pela minha espinha, por ela sangue também escorria, em brasas. Senti algo me rasgar por dentro, a partir deste momento, soube que nada mais seria normal.
A sensação era de mil cães mordendo meu corpo, em cada parte minúscula do meu corpo pode sentir dentes sendo cravados. Rolava pela terra preta tentando desesperadamente arrancar isso de mim. Suor e sangue misturavam-se a terra e colavam em minha pele. Tudo que pude fazer foi abraçar meus joelhos e esperar, deitado na terra quente daquele lugar esquecido pelo mundo.
Após algumas horas, a dor já tivera diminuído e mesmo assim não pude levantar, adormeci. Sonhei com coisa sinistras, seres nus cobertos de sangue, dragões, orgias e cadáveres. Então despertei e senti algo agradável me cobrir, tentei levantar-me, mas desmaiei. Sonhei novamente com coisas estranhas, agora seres de pele clara me beijavam, aviam oliveiras e flores sem cheiro, então despertei novamente. Antes de sentar tive certeza das minhas forças, abri os olhos e vi o sol coberto por nuvens claras, sentei. Meus olhos vasculharam os arredores e não vi nada, a não ser a paisagem macabra, então olhei para mim.
Meu dorso estava despido, coberto de areia e sangue seco, e o que cobria parte do meu corpo era cinza e leve, como asas. Então me levantei, percebi de onde vinha à coberta, percebi que asas pularam das minhas costas. Não sei exatamente descrever a sensação de ser transformado e uma galinha, talvez punição pelos pecados praticados, mas era estranhamente intima, como se a muito já tivera aquele membro.
Não tive pânico, por um longo momento admirei a nova parte do meu corpo. Tinha de cobri-las, iam até os calcanhares, então enrolei uma manta em meu dorso e me pus a andar...

Dédalo de Lianeth